
Em frente aos meus olhos, diante das câmeras, na frente do espelho, pose e mais pose.
Atrás das colunas, nas portas entre abertas, em frestas que mostram mais do que deveriam.
Lá vai ela. Saia justa, salto alto, cabelos ao vento, óculos escuro, maquiagem impecável, andar de pantera.
Meus olhos a observam, fixam em seus pés, passeiam por suas pernas. É preciso cuidado. esconder-me entre as pessoas, atrás dos muros, mas sem deixar de contemplá-la.
Seus dedos chamam o táxi. Entra de maneira sutil. Lá se vai ela.
Onde irá? tomo um táxi e lá vai ela! virou à esquerda, segue na avenida, pára em frente ao restaurante.
A porta se abre. Lentamente coloca sua perna para fora, sai do táxi. Ajusta a saia, puxa daqui, estica dali. Sobe as escadas como se cada movimento fosse capaz de seduzir a todos que a olham.
Saio do táxi também, corro em direção ao restaurante. Desengonçadamente subo as escadas. Não posso entrar no restaurante, afinal meu dinheiro ficou quase todo com o taxista. Mas há um banco de madeira, um pilar e uma janela. É tudo o que preciso.
Sentei-me no banco, tirei o pedaço de espelho que carrego comigo, ajeitei os cabelos longos levemente ondulados. Coloquei o óculos que utilizo em casos considerados especiais.
O banco encontra-se ao lado da janela. Cruzei as pernas e olhei para dentro do restaurante. Procurei entre as mesas e lá estava ela no momento em que seus lábios tocaram o canudo que lhe dava o suco servido.
Os seguranças já me olham. Levanto-me do banco, ajeito os cabelos atrás da orelha e apoio-me na coluna mais próxima. Tiro um cigarro do bolso - apesar de não fumar e ter estes cigarros apenas para situações camaleônicas - e coloco-o na boca mas sem acendê-lo.
Apoiado na coluna é possível vê-la. Come com tamanha tranquilidade que é possível imaginar que nada mais existe fora àquele momento.
A calma é interrompida. Ela levanta-se, não sem antes limpar os lábios com o guardanapo. Devolve a cadeira ao seu lugar e lá vai ela com seu andar de pantera, um rebolar sutil, envolvente. Vai para o fundo do restaurante, onde os olhos que a espiam não conseguem decifrá-la. Lá se vai. Aonde? não é possível! perdeu-se de vista e já não posso ficar ali parado sem fazer nada e sem fumar aquele bendito cigarro.
Joguei o cigarro e fui esperá-la do outro lado da rua mas a pantera não apareceu. Se foi, mas voltarei a encontrá-la.