segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Eu ando cansado. Quero que tudo se acabe. Que haja mudanças.
Ando sem paciência, sem conforto, sem rumo.
Não costumo sair do prumo. Não saio do prumo, mas ando sem rumo.
Um caminho, uma noção, virar pó e me espalhar por aí, entre todos e de todos pegar um pouco, ser um pouco já que nada sou.
Do coração agoniado, da mente monótona, dos músculos parados, distância eu quero.
Sou grande, sou pequeno, sou eu, sou ninguém.

Hoje amar é uma merda.
Gostar é uma bosta.
Desejar é uma porcaria.
Querer é uma praga.
Malditas pragas.
Odeio todas.
Bela merda.
Isso sim.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011


Jogue com cartas sensatas, instigantes e certeiras.
Aposte alto e arrisque as moedas, trocos, trapos e farrapos que podem ser tão importantes para você.
Eu sou a carta coringa.
Você é o comprador de especiarias, o mercador, o manda mais.
Manda a ver então, vá à bancarrota e mostre o quão afoito é.
Ouro, prata, zinco. Meu medalhão carrego escondido.
A sorte está comigo e a ti resta apenas jogar, arriscar um jogo de azar.
Eu giro a roleta, o número que cairá é uma combinação certeira de muitos tempos, de nosso tempo, do tempo que fizemos.
Dados, dardos, cartas, fichas, objetos, bilhetes. Cuidado!
Nada tem valor. Tem valor quem aprecia o arpoador que fisga a todos sem dó e sem rancor.
Por isso eu também aposto, e aposto alto. Bem alto, para me arriscar de verdade e pôr tudo a perder até enlouquecer de vez a todos que me cercam de atenção.
Afinal, é tudo combinado mesmo. É tudo artimanha. E no fim, estou ficando maroto também.

domingo, 7 de agosto de 2011

Passo, pingo, pinto, sinto.
Passo entre as árvores e as tiro do chão.
O vento cavalheiro canta em companhia à minha passagem.
Pingo de cansaço por não ter chegado na hora certa. Perdi a carona e a vida deixou-me a esperar.
Pinto as paredes de um quarto já sem vida, em que as cores serão revigorantes. Um tônico infalível para momentos de reflexão.
Sinto que tudo precisa de um motivador e o que me move é a mudança.

domingo, 10 de julho de 2011

Quando atravessei os pampas argentino descobri uma linda imensidão. Uma noite que me encantou.
Nunca fora tão lindo ver a noite estrelada, cortada por raios que mostravam o céu por alguns segundos.
A planície mostrava-me o quão amplo a vida é, e quantos caminhos e estradas lindas podemos seguir.
Passei por uma estrada em meio aos pampas, numa noite em que trovejava, em que eu sonhava.
Observava atento através da janela do ônibus. Adolescente ainda comedido, com tantas vontades. Momentos que nunca se esquece. Oportunidades que devem ser agradecidas sempre que possível à generosa vida.
Através daquela janela passei a conhecer um mundo novo. Que era possível algo novo. Era possível ser novo. E novo fui.
Cruzei os pampas sem entender como poderia existir um lugar tão vasto sem ninguém para habitar mas com uma estrada capaz de cortar essa apaixonante região.
Feliz daqueles que percebem que a vida é mais do que nossa região. É mais do que uma fronteira ou um país. A vida é conhecer, sentir e talvez não querer entender.
Senti uma vontade imensa de viver o que não havia vivido. De viver o que me esperava. Aos quinze o coração bate mais forte e a mente voa mais alto; a vida parece ser mais instigante.
Se fecho os olhos e acalmo os pensamentos, posso reviver a sensação. É nela, que consigo recarregar ânimos para uma vida às vezes, aparentemente, tão limitada.

domingo, 3 de julho de 2011

A FESTA DO ANEL

Ela vai dar uma festa e não vai me convidar.
Abrirá todas as portas e não me deixará entrar.
Servirá um por um meus ilustres convidados, amados e odiados, já que a festa é recíproco veneno destilado.
Aos queridos, copos de cristal com bebida de frutas silvestres.
Aos outros, copos de cristal com bebida de frutas silvestres.
Claro! nada de distinção entre os presentes. Tratamento igual, sutil e moral.
O segredo está em seu anel. Prata discreta, bem elaborada, cavidade oculta por uma tampa de diamante. Dentro, guarda o veneno na medida certa.
Nessa festa, ela terá comportamento de uma corriqueira anfitriã, discreta e livre de suspeita.
Caminha entre todos em meio as mesas, serve aos interessados e procura aproximar-se dos que deseja eliminar.
Faz questão em servir os presentes e entre eles um em especial. Para ele, prepara a bebida com todo cuidado, como se fora receber um prêmio posterior à degustação. Abre a tampa de seu anel e despeja o veneno na bebida digna de condecoração.
Caminha em direção ao convidado que tanto a instiga, serve a bebida, dá meia-volta e vai em direção à varanda onde a cadeira de palha a espera. Senta-se, cruza as pernas, pega a taça de vinho, olha a festa através do cristal e o canto de sua boca torna-se o começo de um sorriso. Afasta a taça da frente de seus olhos e vê o tumulto no gramado. Bebe o vinho, e tem a certeza que os esforços que os convidados farão não serão suficiente para reanimá-lo. Levanta-se, ajeita o cabelo atrás da orelha e vai embora da festa.
Talvez ela me conte o que fez. Mas eu sei, e já sabia. Por isso não me convidou.

sábado, 25 de junho de 2011

Aonde está a chave que quero arrancar-te? por quê estás aí dentro sem que ninguém te veja?
Venha para cá e te faça ver.
Cubra o espelho para que não possa mirar-te. Os sonhos dependem dos degraus da escada que subo ao céu na ânsia de ter um pouco de novidade.
Um terço de tudo que cobre pode ser visto pelo espelho. Cubra sua mulher, proteja as crianças, tranque as portas, afinal todo cuidado é válido em tempos de tormenta. A garrafa que lhe dei é mágica, do tempos de criança. Nela cabem coisas infinitas. Se quiseres, sonhos adentram nela também. Por hora coloque o navio do capitão. Está de bom tamanho e é de bom tom entre a sociedade galega.
Os mourinhos, que vez por outra transitam nas vielas, já dizem a torto e direito que não fazemos nada durante o dia e vez por outra nos pegam a noite em escapadas sutis.
Vamos daqui porque as ideias já estão sem nexo.

sábado, 11 de junho de 2011

Vele. Junto com a vela vele o que nos resta.
O veleiro, em direção ao vento vai atrás de seu motor.
Vele. Os motivos que já não atormentam os pensamentos.
Velho. Estarei se não colocar toda a terra necessária em cima desses males.
Jogo com a pá montes de terra, afim de lhe tapar e por fim velar.
Velo. porque velho não quero estar ainda triste a lamentar.

domingo, 29 de maio de 2011

VOAR

Já lhe pedi a mão hoje? Me dê a mão então.
Posso lhe chamar de meu amor? Meu amor, Venha.
Apenas feche os olhos. Eu corro e você começa a correr também.
Vamos, que o vento nos ajuda a sonhar.
Nossos pés já não precisam se preocupar com o que tocar.
O chão já não nos pertence mais.
O ar, livre nós o temos para voar.
Voe comigo, porque com você eu sou livre.
Você me liberta, me completa, você me faz existir.
Por isso eu te levo para sentir o vento e voar sobre nossas casas, o campo, nossas vidas.
Você é vida.
Você é meu muito obrigado.
Você, ah... muito obrigado por você. Não caberia aqui o quero escrever. Assim como nunca coube em minha boca o que queria te dizer.
Mas eu voei. E por ter voado hoje posso voar. Em gratidão, eu vôo com você.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

POR SER EDUCADO


Sentei-me no banco do terminal. Sozinho estava a esperar. Ao meu lado, no outro banco, uma mãe carregada de bolsas estava a explicar e tentar convencer seu filho de algo que ele parecia ignorar.
Falava e falava. E como falava essa mulher. Mas falava com calma, com atenção, até que resolveu colocar-me no meio da conversa na intenção que eu concordasse com o que ela tanto tentava explicar ao filho.
Falou olhando-me, desviei o olhar para outro lado, mas ela insistiu em que eu participasse do que sei lá o que falava sem parar.
Tive que bancar o educado. Sorri e concordei sem saber. Jogou-me palavras sobre o tempo que havia melhorado, a natação do filho, o horário da aula, do ônibus e eu perdido com tantos assuntos sem saber sobre qual opinar.
Concordei algumas vezes e quando vi, o ônibus vinha salvar-me. Levantei-me, tentei despedir-me, cheguei a dizer tchau, mas restou-me ir em direção ao ponto e deixar a mulher falando sem parar.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

PANTERA


Em frente aos meus olhos, diante das câmeras, na frente do espelho, pose e mais pose.
Atrás das colunas, nas portas entre abertas, em frestas que mostram mais do que deveriam.
Lá vai ela. Saia justa, salto alto, cabelos ao vento, óculos escuro, maquiagem impecável, andar de pantera.
Meus olhos a observam, fixam em seus pés, passeiam por suas pernas. É preciso cuidado. esconder-me entre as pessoas, atrás dos muros, mas sem deixar de contemplá-la.
Seus dedos chamam o táxi. Entra de maneira sutil. Lá se vai ela.
Onde irá? tomo um táxi e lá vai ela! virou à esquerda, segue na avenida, pára em frente ao restaurante.
A porta se abre. Lentamente coloca sua perna para fora, sai do táxi. Ajusta a saia, puxa daqui, estica dali. Sobe as escadas como se cada movimento fosse capaz de seduzir a todos que a olham.
Saio do táxi também, corro em direção ao restaurante. Desengonçadamente subo as escadas. Não posso entrar no restaurante, afinal meu dinheiro ficou quase todo com o taxista. Mas há um banco de madeira, um pilar e uma janela. É tudo o que preciso.
Sentei-me no banco, tirei o pedaço de espelho que carrego comigo, ajeitei os cabelos longos levemente ondulados. Coloquei o óculos que utilizo em casos considerados especiais.
O banco encontra-se ao lado da janela. Cruzei as pernas e olhei para dentro do restaurante. Procurei entre as mesas e lá estava ela no momento em que seus lábios tocaram o canudo que lhe dava o suco servido.
Os seguranças já me olham. Levanto-me do banco, ajeito os cabelos atrás da orelha e apoio-me na coluna mais próxima. Tiro um cigarro do bolso - apesar de não fumar e ter estes cigarros apenas para situações camaleônicas - e coloco-o na boca mas sem acendê-lo.
Apoiado na coluna é possível vê-la. Come com tamanha tranquilidade que é possível imaginar que nada mais existe fora àquele momento.
A calma é interrompida. Ela levanta-se, não sem antes limpar os lábios com o guardanapo. Devolve a cadeira ao seu lugar e lá vai ela com seu andar de pantera, um rebolar sutil, envolvente. Vai para o fundo do restaurante, onde os olhos que a espiam não conseguem decifrá-la. Lá se vai. Aonde? não é possível! perdeu-se de vista e já não posso ficar ali parado sem fazer nada e sem fumar aquele bendito cigarro.
Joguei o cigarro e fui esperá-la do outro lado da rua mas a pantera não apareceu. Se foi, mas voltarei a encontrá-la.

quinta-feira, 5 de maio de 2011


Vi o filme Rio hoje e saí extasiado do cinema.
É uma delícia de filme para qualquer pessoa que tem o mínimo de amor pelo país.
Uma homenagem mais que merecida.
Mas em certas cenas, vi sutis críticas ao Brasil e confesso que não sabia se deveria rir ou me espantar com aquele tapa de pelica que senti em cenas como quando no cativeiro os pássaros estão em uma gaiola todos amontoados como nas prisões super lotadas país afora; quando os mico-leões roubam as jóias de turistas, ou quando o pássaro vilão se choca com um reator de energia elétrica e causa um apagão em toda a cidade do Rio de Janeiro numa alusão a fragilidade do sistema de energia elétrica nacional. Claro, são detalhes muito bem camuflados. Mas o filme é lindo. Vale a pena ver inúmeras vezes.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vai à merda. Caia às pedras. Desfaça-se em porcas moedas.
Vai à merda, jogue-se na merda, seja a merda.
Se te falta um ventilador, vou ligá-lo e verte voar em pedaços para qualquer lugar.
Vá, suma, que os teus pedaços já emporcalham demais essa praça.
Arraste estas migalhas, estas porcarias, esses pedaços de merda.
Pro inferno.
Pra morte da escuridão.
Bela porcaria de podridão.

terça-feira, 3 de maio de 2011

HOJE

Hoje eu tenho a tristeza. Ela há muito me incomoda. Mas hoje a tristeza me deixa sem rumo, sem atitude e pequeno.
Por trás da tristeza há a vontade disto e daquilo. O sonho, o desejo, a vontade.
A tristeza já magoou-me mais, deixou-me sem rumo muito mais que agora.
A cabeça é mais madura, o corpo mais controlado, o coração aparentemente blindado.
Talvez o que chamo de tristeza atenda pelo nome de decisão.
Talvez o que falta seja mais uma das decisões, que não tomei e, que sim tomei.
A dúvida atende por tristeza, o medo por solução. Solução temporária e ordinária.
De praxe: vejo a vida como uma estrada. Quer saber como é minha estrada? Corro por ela descalço, piso na grama, o verde é lindo, a brisa não para, as folhas dançam ao vento, as árvores me guiam, o céu, limpo, azul como sempre, é o mais lindo e em nada briga com a beleza do sol. Se chove eu espero anciosamente qualquer companhia para que venha comigo e se atreva a correr, pular e brincar na chuva. A chuva que nada mais é do que o mais belo cristal digno à todos.
É sempre assim, eu lembro, lamento, entendo, e tudo se acalma por um momento.
Já é hora de parar.

sábado, 30 de abril de 2011

O HOMEM DE ROSA

O homem de rosa, que agrada, intriga, suspira e fadiga, é o homem que nunca se mostra.
O homem de prosa, que cita, instiga, e cria cantiga, é o que sempre se prostra.
O homem se mostra. Ele senta, levanta e se espanta.
Ele se mostra, se prostra.

sábado, 23 de abril de 2011

O VEREDICTO 2

Cá estou excelência. Recomposto, rosto lavado, cabelos ajeitados.
Confesso que não voltei para casa. Fiquei no banco da praça a tarde inteira e pude ver coisas que há muito tempo não via. Entre elas vi minha vida que de tão abandonada passou por meus olhos discretamente, sem brilho.
Passou escondida na sombra dos que alegremente andavam na minha frente, com ares de liberdade e felicidade.
Precisei ver o sol se pôr para ver quantos dias como este perdi. E quantas pessoas como aquelas, deixei passar.
Excelência, não é todo dia que se percebe o quanto viver pode ser bom, e o quanto vale a pena recomeçar.
Por isso peço licença aos presentes para comunicar:
senhores, com muita alegria, lamento que não haverá mais julgamento.
Julguei que é tempo de sair e sentir a vida, as pessoas.
Quanto a meus clientes, apesar de não termos nos apresentado, dirijam-se à praça. Creio que lhes fará bem.
Obrigado.

O VEREDICTO

O veredicto, senhor Juiz, é que não haja veredicto.
Que a circunstância e a jurisprudência, sejam causas justas. Enfim, ambíguas são todas as leis que prezam pelo alento, o medo, a incerteza, a comoção.
Por isto intervenho por meio de meus clientes, que nada tem a ver comigo. E que de tão distantes não me conhecem nem a cara.
A cara de pau que sempre me foi útil. Saio das enrascadas com proeza e maestria.
Passeio pelas tribunas e cumprimento o clero como se fossemos bons amigos.
De muito me valem estes contatos, inclusive o seu excelência, com todo respeito.
Por isto senhor Juiz, peço tempo ao julgamento.
Tempo para me recompor.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Piso

A pegada, o pé, a marca, o chão.
Piso com pé ante pé. Calço, calçado, amarro cadarço.
Sigo pé com pé. Desvio, tropico, pulo, chuto.
Sinto meu pé ante pé. Poça, lama, grama.
Chuto com o pé que der. Descalço.
Levo no pé, o quanto puder.
O corpo que vai apenas onde eu quiser.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

BARULHO

O barulho nasce alí.
No canto, no meio da sala, do lado de um, no meio dos outros, no espaço entre um silêncio, entre uma palavra e uma risada.
O barulho entra pelos ouvidos, rebate nas paredes, voa ao teto, cai em cima das mesas, rola entre todo mundo, se agarra pelas janelas, espreme-se nas frestas e, não aguenta mais, sai pelo corredor. Voa e se perde. Enfraquece. Lá fora.
Por que aqui ele cresce. Seque frenético sem saber que logo terá os minutos contados, a vida encurtada. Voltará para o canto, desaparecerá no fechar da porta. O barulho também se apaga.

domingo, 3 de abril de 2011

Sentimentos

Sentimentos são o exagero do coração. São o excesso da mente. A gota fora da imaginação.
Sentimentos me deixam em vão. Por isso sinto muito por não ter amado, não ter desejado, apenas ter usado.
Sinto muito por não ter deixado que os sentimentos fossem bons.
Porque de bom bastavam as intenções, e estas me tinham cheio. De saco cheio.
Cheio de vontade, ao ponto se sentir, tudo o que amedronta, que emuduce, que sugere.
Sugiro então que se mate. Se mate pois não te quero mais.
E mais livre estarei sem teus sentimentos, sem meus tormentos. Acabe.
Se acabe ao saber que você não mais existe, que eu não mais existo, que não te encontro mais e, por isso não me sinto mais.
Sinto em vão os sentimentos bons. Que de nada valem. Agora, de nada valem.
Antes tivesse pensado. Tivesse planejado. Mas de qualquer forma, tudo teria dado errado.

segunda-feira, 28 de março de 2011

TECLO

Eu teclo.
Eu teclo como quem tecla desenfreadamente.
Eu teclo como quem busca a fuga pelos dedos, pelas letras, por uma expressão que vá mais. Mais longe que eu.
Eu teclo como quem nunca havia teclado antes e de repente descobre que nas teclas há um mundo de significados que resumem um sentimento, uma vida, um ser, um eu.
Por isso eu teclo.
Teclo.
Teclo e reteclo.
Apenas teclo.