domingo, 10 de julho de 2011

Quando atravessei os pampas argentino descobri uma linda imensidão. Uma noite que me encantou.
Nunca fora tão lindo ver a noite estrelada, cortada por raios que mostravam o céu por alguns segundos.
A planície mostrava-me o quão amplo a vida é, e quantos caminhos e estradas lindas podemos seguir.
Passei por uma estrada em meio aos pampas, numa noite em que trovejava, em que eu sonhava.
Observava atento através da janela do ônibus. Adolescente ainda comedido, com tantas vontades. Momentos que nunca se esquece. Oportunidades que devem ser agradecidas sempre que possível à generosa vida.
Através daquela janela passei a conhecer um mundo novo. Que era possível algo novo. Era possível ser novo. E novo fui.
Cruzei os pampas sem entender como poderia existir um lugar tão vasto sem ninguém para habitar mas com uma estrada capaz de cortar essa apaixonante região.
Feliz daqueles que percebem que a vida é mais do que nossa região. É mais do que uma fronteira ou um país. A vida é conhecer, sentir e talvez não querer entender.
Senti uma vontade imensa de viver o que não havia vivido. De viver o que me esperava. Aos quinze o coração bate mais forte e a mente voa mais alto; a vida parece ser mais instigante.
Se fecho os olhos e acalmo os pensamentos, posso reviver a sensação. É nela, que consigo recarregar ânimos para uma vida às vezes, aparentemente, tão limitada.

domingo, 3 de julho de 2011

A FESTA DO ANEL

Ela vai dar uma festa e não vai me convidar.
Abrirá todas as portas e não me deixará entrar.
Servirá um por um meus ilustres convidados, amados e odiados, já que a festa é recíproco veneno destilado.
Aos queridos, copos de cristal com bebida de frutas silvestres.
Aos outros, copos de cristal com bebida de frutas silvestres.
Claro! nada de distinção entre os presentes. Tratamento igual, sutil e moral.
O segredo está em seu anel. Prata discreta, bem elaborada, cavidade oculta por uma tampa de diamante. Dentro, guarda o veneno na medida certa.
Nessa festa, ela terá comportamento de uma corriqueira anfitriã, discreta e livre de suspeita.
Caminha entre todos em meio as mesas, serve aos interessados e procura aproximar-se dos que deseja eliminar.
Faz questão em servir os presentes e entre eles um em especial. Para ele, prepara a bebida com todo cuidado, como se fora receber um prêmio posterior à degustação. Abre a tampa de seu anel e despeja o veneno na bebida digna de condecoração.
Caminha em direção ao convidado que tanto a instiga, serve a bebida, dá meia-volta e vai em direção à varanda onde a cadeira de palha a espera. Senta-se, cruza as pernas, pega a taça de vinho, olha a festa através do cristal e o canto de sua boca torna-se o começo de um sorriso. Afasta a taça da frente de seus olhos e vê o tumulto no gramado. Bebe o vinho, e tem a certeza que os esforços que os convidados farão não serão suficiente para reanimá-lo. Levanta-se, ajeita o cabelo atrás da orelha e vai embora da festa.
Talvez ela me conte o que fez. Mas eu sei, e já sabia. Por isso não me convidou.