domingo, 3 de julho de 2011

A FESTA DO ANEL

Ela vai dar uma festa e não vai me convidar.
Abrirá todas as portas e não me deixará entrar.
Servirá um por um meus ilustres convidados, amados e odiados, já que a festa é recíproco veneno destilado.
Aos queridos, copos de cristal com bebida de frutas silvestres.
Aos outros, copos de cristal com bebida de frutas silvestres.
Claro! nada de distinção entre os presentes. Tratamento igual, sutil e moral.
O segredo está em seu anel. Prata discreta, bem elaborada, cavidade oculta por uma tampa de diamante. Dentro, guarda o veneno na medida certa.
Nessa festa, ela terá comportamento de uma corriqueira anfitriã, discreta e livre de suspeita.
Caminha entre todos em meio as mesas, serve aos interessados e procura aproximar-se dos que deseja eliminar.
Faz questão em servir os presentes e entre eles um em especial. Para ele, prepara a bebida com todo cuidado, como se fora receber um prêmio posterior à degustação. Abre a tampa de seu anel e despeja o veneno na bebida digna de condecoração.
Caminha em direção ao convidado que tanto a instiga, serve a bebida, dá meia-volta e vai em direção à varanda onde a cadeira de palha a espera. Senta-se, cruza as pernas, pega a taça de vinho, olha a festa através do cristal e o canto de sua boca torna-se o começo de um sorriso. Afasta a taça da frente de seus olhos e vê o tumulto no gramado. Bebe o vinho, e tem a certeza que os esforços que os convidados farão não serão suficiente para reanimá-lo. Levanta-se, ajeita o cabelo atrás da orelha e vai embora da festa.
Talvez ela me conte o que fez. Mas eu sei, e já sabia. Por isso não me convidou.

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