domingo, 29 de maio de 2011

VOAR

Já lhe pedi a mão hoje? Me dê a mão então.
Posso lhe chamar de meu amor? Meu amor, Venha.
Apenas feche os olhos. Eu corro e você começa a correr também.
Vamos, que o vento nos ajuda a sonhar.
Nossos pés já não precisam se preocupar com o que tocar.
O chão já não nos pertence mais.
O ar, livre nós o temos para voar.
Voe comigo, porque com você eu sou livre.
Você me liberta, me completa, você me faz existir.
Por isso eu te levo para sentir o vento e voar sobre nossas casas, o campo, nossas vidas.
Você é vida.
Você é meu muito obrigado.
Você, ah... muito obrigado por você. Não caberia aqui o quero escrever. Assim como nunca coube em minha boca o que queria te dizer.
Mas eu voei. E por ter voado hoje posso voar. Em gratidão, eu vôo com você.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

POR SER EDUCADO


Sentei-me no banco do terminal. Sozinho estava a esperar. Ao meu lado, no outro banco, uma mãe carregada de bolsas estava a explicar e tentar convencer seu filho de algo que ele parecia ignorar.
Falava e falava. E como falava essa mulher. Mas falava com calma, com atenção, até que resolveu colocar-me no meio da conversa na intenção que eu concordasse com o que ela tanto tentava explicar ao filho.
Falou olhando-me, desviei o olhar para outro lado, mas ela insistiu em que eu participasse do que sei lá o que falava sem parar.
Tive que bancar o educado. Sorri e concordei sem saber. Jogou-me palavras sobre o tempo que havia melhorado, a natação do filho, o horário da aula, do ônibus e eu perdido com tantos assuntos sem saber sobre qual opinar.
Concordei algumas vezes e quando vi, o ônibus vinha salvar-me. Levantei-me, tentei despedir-me, cheguei a dizer tchau, mas restou-me ir em direção ao ponto e deixar a mulher falando sem parar.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

PANTERA


Em frente aos meus olhos, diante das câmeras, na frente do espelho, pose e mais pose.
Atrás das colunas, nas portas entre abertas, em frestas que mostram mais do que deveriam.
Lá vai ela. Saia justa, salto alto, cabelos ao vento, óculos escuro, maquiagem impecável, andar de pantera.
Meus olhos a observam, fixam em seus pés, passeiam por suas pernas. É preciso cuidado. esconder-me entre as pessoas, atrás dos muros, mas sem deixar de contemplá-la.
Seus dedos chamam o táxi. Entra de maneira sutil. Lá se vai ela.
Onde irá? tomo um táxi e lá vai ela! virou à esquerda, segue na avenida, pára em frente ao restaurante.
A porta se abre. Lentamente coloca sua perna para fora, sai do táxi. Ajusta a saia, puxa daqui, estica dali. Sobe as escadas como se cada movimento fosse capaz de seduzir a todos que a olham.
Saio do táxi também, corro em direção ao restaurante. Desengonçadamente subo as escadas. Não posso entrar no restaurante, afinal meu dinheiro ficou quase todo com o taxista. Mas há um banco de madeira, um pilar e uma janela. É tudo o que preciso.
Sentei-me no banco, tirei o pedaço de espelho que carrego comigo, ajeitei os cabelos longos levemente ondulados. Coloquei o óculos que utilizo em casos considerados especiais.
O banco encontra-se ao lado da janela. Cruzei as pernas e olhei para dentro do restaurante. Procurei entre as mesas e lá estava ela no momento em que seus lábios tocaram o canudo que lhe dava o suco servido.
Os seguranças já me olham. Levanto-me do banco, ajeito os cabelos atrás da orelha e apoio-me na coluna mais próxima. Tiro um cigarro do bolso - apesar de não fumar e ter estes cigarros apenas para situações camaleônicas - e coloco-o na boca mas sem acendê-lo.
Apoiado na coluna é possível vê-la. Come com tamanha tranquilidade que é possível imaginar que nada mais existe fora àquele momento.
A calma é interrompida. Ela levanta-se, não sem antes limpar os lábios com o guardanapo. Devolve a cadeira ao seu lugar e lá vai ela com seu andar de pantera, um rebolar sutil, envolvente. Vai para o fundo do restaurante, onde os olhos que a espiam não conseguem decifrá-la. Lá se vai. Aonde? não é possível! perdeu-se de vista e já não posso ficar ali parado sem fazer nada e sem fumar aquele bendito cigarro.
Joguei o cigarro e fui esperá-la do outro lado da rua mas a pantera não apareceu. Se foi, mas voltarei a encontrá-la.

quinta-feira, 5 de maio de 2011


Vi o filme Rio hoje e saí extasiado do cinema.
É uma delícia de filme para qualquer pessoa que tem o mínimo de amor pelo país.
Uma homenagem mais que merecida.
Mas em certas cenas, vi sutis críticas ao Brasil e confesso que não sabia se deveria rir ou me espantar com aquele tapa de pelica que senti em cenas como quando no cativeiro os pássaros estão em uma gaiola todos amontoados como nas prisões super lotadas país afora; quando os mico-leões roubam as jóias de turistas, ou quando o pássaro vilão se choca com um reator de energia elétrica e causa um apagão em toda a cidade do Rio de Janeiro numa alusão a fragilidade do sistema de energia elétrica nacional. Claro, são detalhes muito bem camuflados. Mas o filme é lindo. Vale a pena ver inúmeras vezes.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vai à merda. Caia às pedras. Desfaça-se em porcas moedas.
Vai à merda, jogue-se na merda, seja a merda.
Se te falta um ventilador, vou ligá-lo e verte voar em pedaços para qualquer lugar.
Vá, suma, que os teus pedaços já emporcalham demais essa praça.
Arraste estas migalhas, estas porcarias, esses pedaços de merda.
Pro inferno.
Pra morte da escuridão.
Bela porcaria de podridão.

terça-feira, 3 de maio de 2011

HOJE

Hoje eu tenho a tristeza. Ela há muito me incomoda. Mas hoje a tristeza me deixa sem rumo, sem atitude e pequeno.
Por trás da tristeza há a vontade disto e daquilo. O sonho, o desejo, a vontade.
A tristeza já magoou-me mais, deixou-me sem rumo muito mais que agora.
A cabeça é mais madura, o corpo mais controlado, o coração aparentemente blindado.
Talvez o que chamo de tristeza atenda pelo nome de decisão.
Talvez o que falta seja mais uma das decisões, que não tomei e, que sim tomei.
A dúvida atende por tristeza, o medo por solução. Solução temporária e ordinária.
De praxe: vejo a vida como uma estrada. Quer saber como é minha estrada? Corro por ela descalço, piso na grama, o verde é lindo, a brisa não para, as folhas dançam ao vento, as árvores me guiam, o céu, limpo, azul como sempre, é o mais lindo e em nada briga com a beleza do sol. Se chove eu espero anciosamente qualquer companhia para que venha comigo e se atreva a correr, pular e brincar na chuva. A chuva que nada mais é do que o mais belo cristal digno à todos.
É sempre assim, eu lembro, lamento, entendo, e tudo se acalma por um momento.
Já é hora de parar.