(Veja.com/divulgação)
Diego Gangas
A tão esperada estreia de “Os
Dez Mandamentos – o filme” – versão para o cinema da novela bíblica da Rede
Record - aconteceu nesta quinta-feira (28) para o público. Resumir 176
capítulos em duas horas de exibição não deve ter sido uma tarefa muito fácil
para a equipe responsável pelo longa-metragem, mas, para quem acompanhou a
novela, ver o resultado final da edição mostra o quanto a autora Vivian de Oliveira
teve muito talento ao criar tantas tramas paralelas que sustentassem por oito
meses uma novela baseada em livros curtos da bíblia, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio.
Sim, porque de cara sente-se a
falta das personagens e das histórias secundárias - que não existem na bíblia.
Elas simplesmente desapareceram no filme. Yunet, a vilã vivida por Adriana
Garambone, responsável no folhetim por matar o Faraó Seti (Zé Carlos Machado),
e agitar o palácio real com suas intrigas e maldades aparece como mera
figurante. O sacerdote Paser (Giuseppe Oristanio) e o seu fiel aprendiz Simut (Renato
Livera) cumprem a mesma função: praticamente entram mudos e saem calados. Karoma
(Roberta Santiago) a fiel serva da rainha Nefertari (Camila Rodrigues), Leila
(Juliana Didone), Apuki (Heitor Martinez) e tantos outros personagens paralelos
cedem espaço para os reais protagonistas da história. O que não é de se
estranhar. Afinal, em duas horas apenas o necessário e o real (segundo as
escrituras) deveria ser mostrado. Algo frustrante, mas compreensível para quem
acompanhou a saga de Moisés na Record.
Porém, para quem não assistiu
à novela, ver “Os Dez Mandamentos – o filme” pode se transformar em ver a uma
trama confusa, falha e sem lógica em sua continuidade. Sim, porque a edição (ou
mutilação para quem acompanhou a trama na TV) deixa pontos vagos e mal
esclarecidos que confundem o espectador de primeira viagem. (1). Moisés (Guilherme
Winter) ao descobrir que tem uma família hebreia, viva, e próxima a ele,
magicamente é apresentando batendo à porta dos familiares, sendo chamado carinhosamente
de “meu filho” por Anrão (Paulo Gorgulho) seu pai verdadeiro, abraçado por sua
mãe Joquebede (Denise Del Vecchio) e sua irmã Miriã (Larissa Maciel). Recepção
da família e aceitação do príncipe do Egito um tanto forçada para um primeiro
encontro, mesmo que este já estivesse nos planos de Deus. O reencontro poderia
ter sido melhor preparado pela edição, já que havia material para isso. Afinal,
as “enroladas” e “esticadas” existiram na novela e, diga-se de passagem, foram bem-feitas
pela autora. (2). Do primeiro encontro de Moisés com Zípora (Gisele Itié) até o
casamento dos dois não há lógica alguma. Em um determinado momento Zípora tenta
pegar a espada de Moisés para atacá-lo enquanto dorme, quando este a surpreende
e a imobiliza, olhando-a fixamente nos olhos, para na sequência estarem
celebrando a festa de seu casamento. Um vazio que grita na trama e que incomoda
a lógica de quem assiste. (3). Talvez o erro mais grave da sequência no filme.
As cenas das pragas são praticamente vomitadas na cara dos espectadores sem
nenhum respeito ao suspense, ação e linearidade que as cenas tiveram na TV e
mereciam ter na tela grande. Chega a ser incômodo ver as primeiras pragas
apresentadas numa sequência que exclui os diálogos de Moisés e Ramsés (Sergio
Marone) sobre o por que elas estão acontecendo e o que Deus tem a dizer ao Rei
do Egito para alertá-lo de que deve deixar os hebreus partirem para a terra
prometida. Tudo é apresentado de forma muito apressada e confusa, tirando a
capacidade de impactar e impressionar que foi vista na televisão.
Já a abertura do mar vermelho
pode ser apreciada de forma ampliada, chamando a atenção para os efeitos
especiais – muito bem feitos para uma novela que se propôs a retratar uma cena tão
complicada e facilmente criada com expectativa no imaginário das pessoas.
Há que ser honesto com os
efeitos especiais de “Os Dez Mandamentos”. A produção se esforçou para levar um
produto de qualidade dentro do gênero telenovela aos telespectadores. Não à toa
contratou a Stargate Studios de Hollywood para finalizar as cenas. As pragas
são mais que convincentes tanto na pequena quanto na grande tela.
A história foi bem contada.
Vivian de Oliveira merecidamente recebeu e recebe elogios por desenvolver uma
novela baseada em tão pouco do que havia para contar, mas que permitia várias
criações dentro da licença poética.
Depois de tanta expectativa dos
fãs da novela e do marketing feito pela Rede Record para promover a estreia do
filme, ver a “Os Dez Mandamentos” é deparar-se com um resumão mal feito e frustrante
da novela. Frustra quem acompanhou a saga de Moisés na TV e chega cheio de expectativas.
Confunde quem vê a história pela primeira vez e a encontra sem lógica e sem sentido
em alguns pontos importantes.
Sem contar que parece que o
filme serve mais como um preparativo para a nova novela bíblica do canal “A
Terra Prometida”. Basta ver a cena final do longa.
Para quem acompanhou a novela,
ver a “Os Dez Mandamentos – O Filme” é válido. Seja para matar a saudade da história
– afinal, que bom se toda novela que gostamos pudesse ter sua versão compacta
exibida no cinema -, seja para se decepcionar com a edição. É um bom produto
que agradou na versão da TV e que merecidamente está dando lucro a seus idealizadores.
Como diria o apresentador que defende os direitos do consumidor na televisão “Estando
bom para ambas as partes...”
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